Philip Yancey
Revista e Portal CRISTIANISMO HOJE
Alguns homens me mostraram que se rebaixar pode levar ao sucesso que é importante de verdade.
Fiz, recentemente, um exercício. Relacionei o nome das pessoas que mais me influenciaram, cujas qualidades gostaria de imitar. Examinei a lista durante algum tempo antes de perceber que todas possuíam uma característica em comum: a humildade.
Durante algum tempo, rejeitei a humildade, por considerá-la expressão de auto-imagem negativa. Cristãos humildes parecem rastejar, fugindo de todos os elogios com expressões como “Não fui eu, foi obra do Senhor”. Como um amigo matemático intelectual uma vez disse, a situação dos humildes é autoconsumidora: quando a pessoa adquire a consciência de seu valor é rebaixada no mesmo instante.
Porém vejo, hoje, que nenhuma dessas queixas se aplica às pessoas que mais admiro. Um grande cientista, um poeta talentoso, um teólogo que trabalha com os pobres – nenhum deles possui auto-imagem negativa. Todos se destacaram nos estudos, receberam prêmios e não têm motivos para duvidar de seus dons e habilidades. Para eles, a humildade é uma escolha permanente de conceder a Deus, e não a eles mesmos, os talentos naturais que possuem, e de usar esses talentos no serviço do Senhor.
Segundo muitos historiadores, os pensadores pagãos nunca exaltaram a humildade. Enquanto que os filósofos mundanos admiravam as virtudes das realizações e da autoconfiança, os cristãos viam uma grande tentação em tudo que leva a pessoa a se sentir superior às outras. Em outra direção, incentivavam a admiração devida a si mesmo e a dependência total de Deus.
Jesus falou abertamente sobre seus momentos mais estressantes: sobre quem mais leríamos no Novo Testamento falando sobre a tentação solitária no deserto, ou a luta no Getsêmani enquanto seus amigos dormiam? O apóstolo Pedro parece ser pior no evangelho de Marcos que, ao que parece, foi baseado em seu relato (e João Marcos teria acrescentado, como enigma, ele mesmo como o personagem nu correndo para longe da cena da prisão de Jesus). João e Pedro, heróis da Igreja, foram os mais censurados em todos os evangelhos. Paulo prossegue no mesmo tom, aprendendo, através do “espinho na carne”, a se gabar apenas das fraquezas, ocasião que dava lugar à força de Deus.
A humildade tem muitas dimensões. Meu primeiro patrão demonstrou isso, na forma bondosa e paciente com que me tratava, eu, um escritor ainda por ser formado. Ele nunca fez uma alteração editorial em meu texto sem me convencer, com muito esforço, de que a alteração iria, realmente, aprimorar minha obra. Esse homem considerava sua missão não apenas aprimorar textos, mas também aprimorar os escritores.
Outros de meus heróis exercitavam a humildade encontrando um grupo de pessoas esquecidas e desprezadas. Penso no Dr. Paul Brand, jovem médico promissor que foi para a Índia como voluntário, sendo o primeiro cirurgião ortopédico a trabalhar com pacientes leprosos. E também Henri Nouwen, professor nas Universidades de Notre Dame, Yale e Harvard, que acabou entre pessoas que possuem apenas uma fração da inteligência dos alunos dessas universidades: os deficientes mentais dos lares L’Arche, em Toronto e na França. Esses dois homens me mostraram que se rebaixar pode levar ao sucesso que é importante de verdade.
Os Estados Unidos assistiram o Presidente Jimmy Carter passar pela humilhação de perder uma eleição e em seguida ser rejeitado por seu partido. Tendo sido o homem mais poderoso do mundo, rejeitou a idéia de se limitar a jogar golfe e participar de programas de entrevistas, pegou um martelo e foi construir casas para a Habitat for Humanity. Mais tarde, presidentes reconheceram sua capacidade como negociador – para estabelecer a paz – e ele se tornou respeitado em todo o mundo.
“Se alguém quiser ser o primeiro, será o último, e servo de todos”, disse Jesus aos discípulos. Mais tarde, Paulo expandiu o princípio em uma metáfora digna de nota:
“Os membros do corpo que parecem mais fracos são indispensáveis, e os membros que pensamos serem menos honrosos, tratamos com especial honra. E os membros que em nós são indecorosos são tratados com decoro especial, enquanto os que em nós são decorosos não precisam ser tratados de maneira especial. Mas Deus estruturou o corpo dando maior honra aos membros que dela tinham falta” (1 Coríntios 12.22-24, NVI).
Nunca ouvi um pregador ter coragem para citar as “partes indecorosas” que tratamos com vergonha especial. Eu votaria para essa posição nas células do cólon e dos rins, que desempenham as funções de limpeza do corpo. Damos muita atenção às partes visíveis, como os olhos e o cabelo. Porém, cegos e carecas provam que é possível ter uma vida rica e recompensadora sem olhos que funcionem e fios de cabelo. Já uma pessoa cujos rins ou cólon parem de funcionar viverá apenas algumas horas, caso não receba cuidados médicos.
Durante a maior parte de sua vida, Albert Einstein manteve na parede o retrato de dois cientistas, Newton e Maxwell, como exemplos para inspirar sua vida. Todavia, quando o fim de sua vida se aproximava, trocou pelos retratos de Albert Schweitzer e Mahatma Gandhi. Afirmou que precisava de novos exemplos a seguir – não de sucesso, mas sim de serviço humilde.
Copyright © 2008 Christianity Today International
www.cristianismohoje.com.br
Durante algum tempo, rejeitei a humildade, por considerá-la expressão de auto-imagem negativa. Cristãos humildes parecem rastejar, fugindo de todos os elogios com expressões como “Não fui eu, foi obra do Senhor”. Como um amigo matemático intelectual uma vez disse, a situação dos humildes é autoconsumidora: quando a pessoa adquire a consciência de seu valor é rebaixada no mesmo instante.
Porém vejo, hoje, que nenhuma dessas queixas se aplica às pessoas que mais admiro. Um grande cientista, um poeta talentoso, um teólogo que trabalha com os pobres – nenhum deles possui auto-imagem negativa. Todos se destacaram nos estudos, receberam prêmios e não têm motivos para duvidar de seus dons e habilidades. Para eles, a humildade é uma escolha permanente de conceder a Deus, e não a eles mesmos, os talentos naturais que possuem, e de usar esses talentos no serviço do Senhor.
Segundo muitos historiadores, os pensadores pagãos nunca exaltaram a humildade. Enquanto que os filósofos mundanos admiravam as virtudes das realizações e da autoconfiança, os cristãos viam uma grande tentação em tudo que leva a pessoa a se sentir superior às outras. Em outra direção, incentivavam a admiração devida a si mesmo e a dependência total de Deus.
Jesus falou abertamente sobre seus momentos mais estressantes: sobre quem mais leríamos no Novo Testamento falando sobre a tentação solitária no deserto, ou a luta no Getsêmani enquanto seus amigos dormiam? O apóstolo Pedro parece ser pior no evangelho de Marcos que, ao que parece, foi baseado em seu relato (e João Marcos teria acrescentado, como enigma, ele mesmo como o personagem nu correndo para longe da cena da prisão de Jesus). João e Pedro, heróis da Igreja, foram os mais censurados em todos os evangelhos. Paulo prossegue no mesmo tom, aprendendo, através do “espinho na carne”, a se gabar apenas das fraquezas, ocasião que dava lugar à força de Deus.
A humildade tem muitas dimensões. Meu primeiro patrão demonstrou isso, na forma bondosa e paciente com que me tratava, eu, um escritor ainda por ser formado. Ele nunca fez uma alteração editorial em meu texto sem me convencer, com muito esforço, de que a alteração iria, realmente, aprimorar minha obra. Esse homem considerava sua missão não apenas aprimorar textos, mas também aprimorar os escritores.
Outros de meus heróis exercitavam a humildade encontrando um grupo de pessoas esquecidas e desprezadas. Penso no Dr. Paul Brand, jovem médico promissor que foi para a Índia como voluntário, sendo o primeiro cirurgião ortopédico a trabalhar com pacientes leprosos. E também Henri Nouwen, professor nas Universidades de Notre Dame, Yale e Harvard, que acabou entre pessoas que possuem apenas uma fração da inteligência dos alunos dessas universidades: os deficientes mentais dos lares L’Arche, em Toronto e na França. Esses dois homens me mostraram que se rebaixar pode levar ao sucesso que é importante de verdade.
Os Estados Unidos assistiram o Presidente Jimmy Carter passar pela humilhação de perder uma eleição e em seguida ser rejeitado por seu partido. Tendo sido o homem mais poderoso do mundo, rejeitou a idéia de se limitar a jogar golfe e participar de programas de entrevistas, pegou um martelo e foi construir casas para a Habitat for Humanity. Mais tarde, presidentes reconheceram sua capacidade como negociador – para estabelecer a paz – e ele se tornou respeitado em todo o mundo.
“Se alguém quiser ser o primeiro, será o último, e servo de todos”, disse Jesus aos discípulos. Mais tarde, Paulo expandiu o princípio em uma metáfora digna de nota:
“Os membros do corpo que parecem mais fracos são indispensáveis, e os membros que pensamos serem menos honrosos, tratamos com especial honra. E os membros que em nós são indecorosos são tratados com decoro especial, enquanto os que em nós são decorosos não precisam ser tratados de maneira especial. Mas Deus estruturou o corpo dando maior honra aos membros que dela tinham falta” (1 Coríntios 12.22-24, NVI).
Nunca ouvi um pregador ter coragem para citar as “partes indecorosas” que tratamos com vergonha especial. Eu votaria para essa posição nas células do cólon e dos rins, que desempenham as funções de limpeza do corpo. Damos muita atenção às partes visíveis, como os olhos e o cabelo. Porém, cegos e carecas provam que é possível ter uma vida rica e recompensadora sem olhos que funcionem e fios de cabelo. Já uma pessoa cujos rins ou cólon parem de funcionar viverá apenas algumas horas, caso não receba cuidados médicos.
Durante a maior parte de sua vida, Albert Einstein manteve na parede o retrato de dois cientistas, Newton e Maxwell, como exemplos para inspirar sua vida. Todavia, quando o fim de sua vida se aproximava, trocou pelos retratos de Albert Schweitzer e Mahatma Gandhi. Afirmou que precisava de novos exemplos a seguir – não de sucesso, mas sim de serviço humilde.
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