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22 novembro 2007

:: [ ENTREVISTA ] :: Entrevista com Martinho Lutero


Dia da Reforma: hoje e sempre

Foi no dia 31 de outubro de 1517 que o monge alemão Martinho Lutero fixou à porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, uma coleção de 95 frases curtas, quase todas referentes às indulgências, o perdão de pecados que a Igreja vendia aos fiéis.

Ficaram conhecidas como as “95 teses”. Esse ato de ousadia marcou o início da chamada Reforma Protestante. Lutero dizia que em nenhum momento de sua história a Igreja pode declarar que não precisa de reforma. Seu lema era: “ecclesia reformata semper reformanda est”, ou seja, a igreja reformada tem que estar em permanente reforma.
Veja a seguir trechos de uma entrevista fictícia com Lutero realizada no ano de 2000 pela revista Ultimato. A entrevista nasceu da imaginação, mas as respostas são verdadeiras; foram elaboradas com base em pesquisa histórica. As frases entre aspas significam que elas são textos do próprio Lutero. As demais, embora não sejam textualmente dele, estão de acordo com a veracidade histórica.

A afixação das 95 teses à porta da Igreja do Castelo e os acontecimentos posteriores têm alguma relação com seu apego à Bíblia?
Sim. Propugnei um retorno à Bíblia. Procurei demonstrar que a autoridade das Escrituras é maior que a da Igreja. Esta não é dona da Bíblia, mas serva. A tradição da Igreja pode ser legítima, porém não infalível; por isso deve ser julgada pela Bíblia. Em outras palavras, preguei que a Palavra de Deus é regra de fé e prática.

O Doutor é a favor de se colocar a Bíblia nas mãos do povo?
Perfeitamente. Eu mesmo traduzi o Novo Testamento do texto grego e o Velho do texto hebraico para o alemão que todos entendem. Os 5 mil exemplares do Novo Testamento publicado em setembro de 1522, foram vendidos em três meses, de modo que em dezembro já saía uma nova edição. Muitas outras vieram depois. Tomávamos sempre o cuidado de eliminar erros tipográficos, corrigir erros de tradução ou substituir palavras por outras expressões mais convenientes. Melanchthon, especialista em grego, e Aurogallus, especialista em hebraico, ajudaram-me muito nessas revisões.

O Doutor gosta do nome luterano dado especialmente aos alemães que abraçaram a Reforma?
“Peço que se silencie acerca de meu nome e ninguém se denomine luterano, mas, sim, cristão. Quem é Lutero? A doutrina não é minha e não fui crucificado por ninguém... E como poderia ser que eu, um pobre saco de estrume, tivesse meu nome, o qual nenhuma salvação encerra, dado aos filhos de Cristo? Não deve ser assim, terminemos com esses nomes partidários e denominemo-nos cristãos, pois possuímos a doutrina de Cristo”.

O Doutor foi acusado de corromper a moral cristã. O que diz sobre isso?
Nada mais falso. Os adversários, baseando-se na doutrina da justificação pela graça perdoadora de Deus, da qual me tornei pregador convicto e entusiasta, não entenderam ou deturparam meu ensino e diziam que eu tornara as boas obras desnecessárias e destituídas de significado, abrindo assim caminho para as más obras. Por outro lado, é provável que algumas pessoas imaturas tenham se valido desta interpretação errônea para se entregarem à devassidão. O que, todavia, a Palavra de Deus ensina e eu custei a descobrir é que “não podemos alcançar remissão dos pecados e justiça diante de Deus por mérito, obra e satisfação nossas, mas pela graça, por causa de Cristo, mediante a fé, quando cremos que Cristo padeceu e nos são dadas justiça e vida eterna”. A tremenda verdade da justificação pela fé diz nada mais nada menos que Deus “considera justo o homem que possui a justiça que Ele próprio, Deus, lhe oferece — a justiça de Cristo. Deus a oferece pelo Evangelho de Cristo e o homem a recebe e dela toma posse pela fé, ou seja, quando toma a sério a mensagem e crê na oferta e doação que Deus lhe está fazendo”. “Temos de guardar fielmente o artigo da justificação pela fé em todos os tempos por ser o artigo principal da doutrina cristã, pela qual a igreja de Cristo se distingue de toda religião falsa, sendo dada a glória somente a Deus e constante conforto ao pecador.”

Por que o homem não pode alcançar a salvação mediante as obras, por exemplo, da própria Lei de Deus?
“Porque desde a queda no pecado, o homem natural é de todo incapaz para guardar a Lei de Deus e o próprio cristão só a cumpre imperfeitamente”.

Então, para que serve a Lei?
“A Lei serve para um fim triplo. Em primeiro lugar, concorre para a manutenção da ordem e da honestidade exterior do mundo, impedindo de certa maneira o desenfreamento grosseiro do pecado. Neste caso a Lei é freio. Em segundo lugar, ensina de modo especial aos homens a reconhecerem verdadeiramente seus pecados. Neste caso a Lei é espelho. Em terceiro lugar, mostra ao regenerado quais são verdadeiramente as boas obras. Neste caso a Lei é norma”.

Texto extraído de Ultimato de Jan/Fev de 2000

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